Eu devo andar com muito tempo (not) mas de vez em quando dá-me para refletir sobre assuntos profundos. Dei por mim a pensar, nesta nova era em que todos queremos falar mas não estamos dispostos a ouvir.
Nós vivemos numa era de "sempre ligados", onde a informação circula a uma velocidade nunca vista e apesar disso parece que estamos com menos informação de qualidade. Assim como, estamos constantemente conectados com todos mas muitos sentem-se profundamente sós e incompreendidos. Uma das razões para este aparente contrassenso pode estar na crescente dificuldade das pessoas ouvirem verdadeiramente as outras. Parece que a necessidade de falar sobre si, se sobrepõe à sua capacidade de escutar, criando um vazio de empatia e compreensão pelo outro.
Por vezes encontramo-nos numa conversa onde, enquanto o outro fala, já estamos a pensar na nossa resposta, na nossa história, na nossa opinião, em vez de ouvir genuinamente o que está a ser dito.
A atenção, que é a grande riqueza do século XXI, está cada vez mais dispersa. Com esta evolução digital e a cultura do "eu" nas redes sociais, somos constantemente incentivados a mostrar a nossa imagem, as nossas conquistas, as nossas frustrações. Estamos em busca de uma aprovação efêmera, de um publico maioritariamente desconhecido.
Isto de falar sobre nós próprios não é, por si só, negativo. É natural gostar da partilha de experiências e sentimentos. O problema aparece quando essa necessidade se torna egocêntrica. As conversas tornam-se em sequências de monólogos, onde cada um quer falar mais que o outro, sem ouvir genuinamente o que o outro tem para contar sobre si.
As consequências desta "nova epidemia" são notadas no comportamento de cada um. Não faz assim tanto tempo, os amigos e família eram o principal refúgio para desabafos, conselhos e apoio emocional. Com eles partilhamos experiências e angústias à espera de um ombro amigo e conselhos válidos. Hoje, muitos dizem sentirem que não têm ninguém disponível nas suas amizades e família para ouvir sem julgar, para oferecer um conselho ou, simplesmente, para estar presente.
Esta falta de empatia tem levado a um grande número de pessoas a procurar ajuda profissional. A terapia, que antes era vista com algum estigma, tornou-se para muitos um espaço para serem ouvidos e compreendidos.
O terapeuta torna-se nesse "apoio" imparcial, a escuta ativa e a capacidade de ajudar a organizar pensamentos e emoções, algo que antes era, em parte, colmatado pelas pessoas mais próximas. A crescente procura por psicólogos e psiquiatras (e bem) pode ser um sintoma de que a sociedade, enquanto coletivo, está a falhar na sua capacidade de oferecer um suporte emocional básico através da simples, mas poderosa, arte de ouvir.
E notamos isto, desde as camadas mais jovens até ao idosos. Quantos idosos têm uma solidão imensa pois não têm mais um vizinho com que falar, alguém que o ouça? Desde muito cedo digo à minha pequena "tens uma boca e dois ouvidos" tens de ouvir mais e falar menos". E hoje em dia as redes sociais vieram exacerbar este comportamento egocêntrico da sociedade. Julgamos sem ouvir, condenamos sem sequer saber toda a história, insurgimo-nos com os cabeçalhos, sem ler todo o artigo... isto é sintomático, não é?
Não tenho formulas, nem soluções para isto... infelizmente, mas consigo olhar ao meu redor e refletir sobre esta questão.
Ouvir, podemos considerar um acto de empatia. Mas acho que acima de tudo estamos numa crise de Empatia.