quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Finalmente Alguém que pensa como eu! "Ó Sr. Prof. Dr. Eng.!"

Se vocês andam por cá há um tempo sabem (ou deviam saber) que se há coisa que me causa urticária são os títulos e as pessoas que o exibem como se fosse algo de importante.
Ao ler este artigo, só consegui dar gargalhadas à medida que avançava na leitura! Se a autora estivesse aqui ao meu lado dava-lhe um beijo. Se calhar por eu ser uma pessoa do mundo, de trabalhar todos os dias com meio mundo pense exactamente como a autora. Não precisei de emigrar para chegar a esta conclusão.
As pessoas são aquilo que valem e não o canudo que tiram em qualquer altura da sua vida. Não é sinal de status, de bom emprego ou bom ordenado e muito menos de inteligência.
Quando eu quero recordar as memórias do meu curso superior, chego a casa e abro o álbum de fotos ou vou abrir o guarda fatos e vejo lá a minha capa de estudante. Não preciso de um título de uma coisa com a qual não me identifico minimamente ou sequer me identifica como pessoa ou como trabalhadora.
Não deixem de ler:
 
"A utilização de títulos é muito importante em Portugal.
Na Grã-Bretanha, existem muitos títulos. Há Lords e Ladies, Dames, Dukes e Sirs, e não devemos esquecer Majesties e Highnesses. No entanto, acontece que não há muitas pessoas com títulos desse género. Existem, por outro lado, os títulos profissionais: por exemplo, “Reverend” para os padres anglicanos, “Doctor” para os médicos (até chegarem a “consultants”, quando se tornam Mr. ou Mrs. de novo), ou “Professor” para os catedráticos nas universidades. Fora das forças armadas e da magistratura, não há outros títulos profissionais. Existem, claro, pessoas que levam os títulos demasiado a sério, mas há ainda mais que lhes ligam nenhuma.
Até o uso de Mr. ou Mrs. (ou Miss ou Ms.) se reduziu muito nestes últimos cinquenta anos. São formas utilizados de uma maneira parecida à de Sr. e Srª. em Portugal, para mostrar um certo respeito, falta de reconhecimento, ou para manter uma distância saudável de pessoas que não suportamos. Estas formas de tratamento são muitas vezes esquecidas logo que se estabelece uma razoável familiaridade entre as pessoas, até no emprego. Não me lembro de alguma vez ter chamado Mr. ou Mrs. a um chefe.  
O título Dr. é utilizado para anunciar publicamente que essa pessoa dá jeito no caso de nos encontrarmos doentes, e não para suscitar adulação ou respeito (as pessoas com doutoramentos podem intitular-se Dr., mas muitas não usam o título, talvez para evitarem ser chamadas num avião quando outro passageiro sofre um ataque cardíaco.)
Na Grã-Bretanha, os veterinários não são Drs., e os arquitectos não têm título, nem os engenheiros. Estes profissionais usam letras a seguir aos seus nomes, para utilizarem em sítios oficiais, para explicarem que são qualificados e registos com as instituições respectivas, mas não há veterinário que espere de um agricultor humilde que lhe diga: “Bom dia, Mr. Harris, BVetMed MRCVS, pode dar uma vista de olhos à minha vaca, se faz favor?” Os professores não têm título profissional, nem os outros diplomados, com a excepção dos de medicina.
Em Portugal, também há muitos títulos… e muitas e muitas pessoas que os usam.
Há tantos doutores que não há nada de especial em ser doutor. Doutores de medicina SÃO especiais, e estarei sempre disposta a chamar-lhes o que quiserem, sempre que a minha vida estiver nas suas mãos.
Se o leitor é arquitecto, irrita-se se o pedreiro não lhe chamar Sr. Arquitecto em sinal de respeito, mesmo sabendo que pelas suas costas ele lhe chama idiota? E o leitor chama-lhe o quê a ele? Sr. Pedreiro? Não, chama-lhe o Zé (ou talvez “Sôr” Zé). Se você é engenheiro, sente-se respeitado porque uma pessoa utiliza o seu título correcto, mesmo que eles se riam da sua insistência em ser chamado Sr. Engenheiro?
É tudo porque quer ser respeitado publicamente, não é? Mais: quer ser considerado melhor do que os outros e tratado melhor do que os outros, só porque tem uma licenciatura ou mestrado desta ou daquela espécie?
Clamar por respeito é pouco digno e absurdo, porque o respeito devia-se ganhar (para além de ser simplesmente merecido quando se é um ser humano decente) através do que uma pessoa realmente faz bem. Não? Parece que há pessoas que consideram os títulos académicos mais importantes do que o trabalho, do que curar, do que construir, do que ensinar, do que desenhar, do que a coisa que realmente nos define e justifica o respeito dos outros — o trabalho duro e honesto.
Aos meus olhos estrangeiros e patetas, todos estes títulos revelam falta de auto-estima. Quase ninguém parece capaz de quebrar a tradição, e de dizer “por amor de deus, chame-me Zé, não Sr. Dr. Prof. Eng.”. E assim, o sistema dos títulos excessivos continua, de tal modo que dá ideia de que o respeito público depende de um mero título universitário. É uma grande pena, porque Portugal realmente tem muitas, mas muitas pessoas que merecem respeito e justificam orgulho, sem precisarem de ser doutores.
(Traduzido pela autora a partir do original inglês)
 
Lucy Pepper
In "Observador"
 

8 comentários:

  1. Adorei :) Obrigada pela partilha!!

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  2. Portugal vive sem sombra de dúvidas de títulos.
    Trabalhei numa pequena empresa de engenharia onde a única pessoa que era tratada como engenheiro era o patrão, tanto por nós ou quando nos ligavam à sua procura.
    Todos os outros eram tratados pelo seu nome próprio,incluindo quando ligavam de alguma obra ou empresa parceira, fossem essas pessoas engenheiros, arquitectos ou empreiteiros.
    Honestamente acho que ele até gostava que o tratássemos pelo titulo e não referíssemos o seu nome.
    Já a mulher dele formada em Inglaterra (e aqui se nota toda a diferença e vai de encontro ao que a autora escreveu) dispensava o titulo, aliás irritava-se e não tinha qualquer problema em interromper a outra pessoa e dizer que não queria ser tratada dessa forma.
    Enfim, sinceramente os títulos são mariquices que acabam a ser usadas para aumentar a auto estima e o poder de uns perante outros, de se fazer mostrar, de marcar a diferença...

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  3. Não podia concordar mais , um dia ao telefonar a uma Sra devido a uma situação , fui atendida pela mãe , eu perguntei pela Dona ***** e a Sra responde-me :
    você conhece-a ?
    eu disse que não
    então a Sra responde-me :
    é Sra , Dona , prof , drt , etc...... e que era uma falta de educação como eu estava a tratar a filha dela -.-
    pensei que se tratava de uma velha senil de nariz empinado , quando conheci a filha constatei que quem sai aos seus não degenera -.- além de me fazer esperar 1 hora de pé quando ela estava na sala ao lado sem fazer nada em casa .Na altura resolvi a situação que fui tratar com ela que demorou pouco mais de 30 segundos e que era do interesse da dita cuja . Infelizmente há muita gente assim -.- e está cada vez pior , muita auto-estima misturada com muito nariz empinado e pouca educação.
    Para mim Dr só mesmo médico .

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  4. também concordo plenamente com este texto..
    Quando alguém me quer chamar utilize somente o nome que a minha mãezinha me deu..

    kisses***

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  5. "Como é que a posso tratar?" "Pelo meu nome, o único que eu tenho :)"

    Na minha área felizmente não há muito esta "paneleirice". UFA. Talvez por ser uma profissão relativamente recente, sempre nos tratamos pelo nome (incluindo os chefes) nos vários sítios por onde já passei, mesmo sendo todos Licenciados/Mestrados/Doutorados. Não gosto dessa coisa de títulos e acho ridículo assinaturas com "Dr. X" em contextos não profissionais!

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  6. sou no meu grupo de amigos (e provavelmente uma das poucas da minha geração) a única que não vê isto dos títulos como um cancro. acho que tratar alguém (em contexto profissional, leia-se) pelo título a que tem direito não é sinal de respeito, que se vê antes por tantas outras coisas, mas de reconhecimento (embora a licenciatura, ou o mestrado, ou o doutoramento, valham o que valem). o que se passa em portugal é que a) todos são drs., b) metade dos ditos acha que tão só e apenas por isso são os maiores da aldeia e põem os meros srs. e sras. desta vida a um canto. e isso sim dispensa-se!

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  7. É uma "paneleirice" sim senhora. Mas é-o igualmente para os médicos. Porquê razão só eles podem ser chamados de doutores? Têm uma licenciatura como os demais, porque aceitar então esta exceção» São profissionais, como os outros. A sua especialidade é a medicina. A sua obrigação é tratar-nos quando estamos doentes, para isso são pagos. Que mania esta dos portugueses reverenciarem os médicos como se fossem uma espécie e deuses. Parece que ainda vivemos no antigamente quando para o senhor DOUTOR médico nem se levantava os olhos (sim falava-se com o médico de olhos no chão!). Que mentalidade novecentista.

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  8. Eu nem aos médicos chamo doutores, são médico e ponto final.

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🦸‍♀️

8 comentários:

  1. Adorei :) Obrigada pela partilha!!

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  2. Portugal vive sem sombra de dúvidas de títulos.
    Trabalhei numa pequena empresa de engenharia onde a única pessoa que era tratada como engenheiro era o patrão, tanto por nós ou quando nos ligavam à sua procura.
    Todos os outros eram tratados pelo seu nome próprio,incluindo quando ligavam de alguma obra ou empresa parceira, fossem essas pessoas engenheiros, arquitectos ou empreiteiros.
    Honestamente acho que ele até gostava que o tratássemos pelo titulo e não referíssemos o seu nome.
    Já a mulher dele formada em Inglaterra (e aqui se nota toda a diferença e vai de encontro ao que a autora escreveu) dispensava o titulo, aliás irritava-se e não tinha qualquer problema em interromper a outra pessoa e dizer que não queria ser tratada dessa forma.
    Enfim, sinceramente os títulos são mariquices que acabam a ser usadas para aumentar a auto estima e o poder de uns perante outros, de se fazer mostrar, de marcar a diferença...

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  3. Não podia concordar mais , um dia ao telefonar a uma Sra devido a uma situação , fui atendida pela mãe , eu perguntei pela Dona ***** e a Sra responde-me :
    você conhece-a ?
    eu disse que não
    então a Sra responde-me :
    é Sra , Dona , prof , drt , etc...... e que era uma falta de educação como eu estava a tratar a filha dela -.-
    pensei que se tratava de uma velha senil de nariz empinado , quando conheci a filha constatei que quem sai aos seus não degenera -.- além de me fazer esperar 1 hora de pé quando ela estava na sala ao lado sem fazer nada em casa .Na altura resolvi a situação que fui tratar com ela que demorou pouco mais de 30 segundos e que era do interesse da dita cuja . Infelizmente há muita gente assim -.- e está cada vez pior , muita auto-estima misturada com muito nariz empinado e pouca educação.
    Para mim Dr só mesmo médico .

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  4. também concordo plenamente com este texto..
    Quando alguém me quer chamar utilize somente o nome que a minha mãezinha me deu..

    kisses***

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  5. "Como é que a posso tratar?" "Pelo meu nome, o único que eu tenho :)"

    Na minha área felizmente não há muito esta "paneleirice". UFA. Talvez por ser uma profissão relativamente recente, sempre nos tratamos pelo nome (incluindo os chefes) nos vários sítios por onde já passei, mesmo sendo todos Licenciados/Mestrados/Doutorados. Não gosto dessa coisa de títulos e acho ridículo assinaturas com "Dr. X" em contextos não profissionais!

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  6. sou no meu grupo de amigos (e provavelmente uma das poucas da minha geração) a única que não vê isto dos títulos como um cancro. acho que tratar alguém (em contexto profissional, leia-se) pelo título a que tem direito não é sinal de respeito, que se vê antes por tantas outras coisas, mas de reconhecimento (embora a licenciatura, ou o mestrado, ou o doutoramento, valham o que valem). o que se passa em portugal é que a) todos são drs., b) metade dos ditos acha que tão só e apenas por isso são os maiores da aldeia e põem os meros srs. e sras. desta vida a um canto. e isso sim dispensa-se!

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  7. É uma "paneleirice" sim senhora. Mas é-o igualmente para os médicos. Porquê razão só eles podem ser chamados de doutores? Têm uma licenciatura como os demais, porque aceitar então esta exceção» São profissionais, como os outros. A sua especialidade é a medicina. A sua obrigação é tratar-nos quando estamos doentes, para isso são pagos. Que mania esta dos portugueses reverenciarem os médicos como se fossem uma espécie e deuses. Parece que ainda vivemos no antigamente quando para o senhor DOUTOR médico nem se levantava os olhos (sim falava-se com o médico de olhos no chão!). Que mentalidade novecentista.

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  8. Eu nem aos médicos chamo doutores, são médico e ponto final.

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